quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

VÔLEI PARAOLÍMPICO – SUPERAÇÃO E SUSTENTO


Pessoas com diferentes tipos de deficiências físicas encaram o esporte como fonte de renda




Engana-se quem acredita que o vôlei seja um esporte apenas para pessoas altas, com longas pernas e braços. O vôlei adaptado, modalidade que surgiu a partir da combinação entre o vôlei olímpico e o Sitzbal – esporte alemão que não utiliza a rede e é praticado por pessoas com dificuldades para se locomover -, é a modalidade paraolímpica que mais cresce no Brasil e pode ser praticada por atletas com amputações nos membros inferiores e superiores, paralisias cerebrais, lesões na coluna vertebral e outras diferentes deficiências de locomoção. Com regras de jogo praticamente iguais a do vôlei em pé – melhor de 3 sets, sets com 25 pontos, tie-break, 6 jogadores em cada equipe – o que diferencia a modalidade do olímpico é o tamanho da quadra e a altura da rede. No esporte paraolímpico a quadra mede 6m de largura por 10m de comprimento, enquanto a convencional mede 18m x 9m, a altura da rede é de 1.15m para homens e 1.05m para mulheres, na outra modalidade é de 2.43 para homens e 2.24 para mulheres. Há também a possibilidade do saque ser bloqueado, o que é proibido na modalidade convencional. O grau de dificuldade do esporte está presente no deslocamento. Ao tocar na bola o atleta não pode retirar o glúteo do chão. Todo o deslocamento deve ser feito com as mãos, no voleibol sentado você transforma o tornozelo em punho, e os joelhos seriam os cotovelo e ombros.



Como todas as modalidades paraolímpicas, o comprometimento e dedicação são exigidos para aqueles que buscam ter uma carreira de sucesso dentro do esporte. Para o Técnico da Seleção Brasileira Feminina de Vôlei Paraolímpico e Orientador de Esporte de Rendimento Paraolímpico do Sesi/SP, Ronaldo Oliveira: “Um bom deficiente é aquele que a gente consegue vender bem. Deficiente bom é aquele que tem uma boa história e aquele que tem sucesso. A gente vende deficiente que se supera. Se for um deficiente que não se supera, nunca vamos conseguir fazer com que ele seja reconhecido. Ele tem que ser um produto como qualquer outro atleta”. A maior dificuldade enfrentada pelos atletas que buscam se profissionalizar é encontrar centros de treinamentos paraolímpicos. Na cidade de São Paulo será iniciada a construção do primeiro centro apenas em 2013, com inauguração programada para o segundo semestre de 2015. Insatisfeito com essa realidade, Carlos Roberto da Silva, 40, mais conhecido como Prof. Carlinhos, idealizou em 2008 o Instituto Barueri Paraolímpico, localizado na cidade de Barueri, na grande São Paulo. Em 2000, enquanto estava no hospital se recuperando do acidente que o fez perder uma das pernas, assistiu uma entrevista de um medalhista das paraolimpíadas de Sidney. Silva conheceu o vôlei adaptado e percebeu que a prática esportiva poderia ajudá-lo a encarar a nova forma de vida. Atualmente o Instituto conta com 21 atletas paraolímpicos, sendo 17 do vôlei, 3 da natação e 1 da Bocha. Todos os atletas são moradores de Barueri e, através de uma parceria com a Prefeitura Municipal e algumas empresas, cada atleta recebe uma bolsa auxílio. 

Fonte de Renda 
O Governo Federal possui programas de incentivo para atletas de alto rendimento, o Bolsa-Atleta oferece entre R$300,00 à R$2.500,00 variando de acordo com a modalidade e rendimento. Para conquistar essa bolsa o atleta precisa estar matriculado em instituição de ensino público ou privado, estar vinculado a alguma entidade de prática desportiva e ter participado de competição no ano anterior àquele em que está pleiteando a Bolsa. O Presidente do Instituto Barueri, Prof. Carlinhos, é titular e capitão do time de vôlei masculino, mas não consegue se manter apenas com a renda do esporte. “Na época que eu comecei era uma terapia pra mim, hoje já tem uma ajudinha, mas, não supre as minhas necessidades. Me formei como professor e ganho mais”, conta Carlinhos. Tanto no time do Sesi quanto no time de Barueri há exemplos de atletas que conseguem tirar o sustento do esporte e outros não.


Daniel Yoshizawa, atleta do Sesi, conta com o apoio da namorada e também atleta paraolímpica Nathalie Filomena, que já participou de competições internacionais e acredita no talento do companheiro. “Através da minha deficiência eu conheci o esporte. Hoje só fica parado quem quer”, afirma animado o atleta que aos 19 anos precisou amputar as duas pernas e 5 dedos por conta de uma meningite. No time de Barueri Felipe dos Santos, 23, Júnior Oliveira, 25 e Diego Alcântara, 22, conseguem tirar o sustento apenas com a bolsa-atleta. Ambos encontraram no esporte, além da fonte de renda, uma forma de interação social.
Atletas do Sesi treinam na quadra adaptada em Suzano-SP
Adaptação
Janaína Petit, 35, já jogou em grandes times como Pinheiros, São Caetano e na Seleção Brasileira Infanto-Juvenil, mas em 1993, no caminho para o centro de treinamento foi atropelada por um ônibus. Por esse acidente, Janaína perdeu parte dos músculos na perna e precisou fazer implantes de pele. Ela tentou continuar no vôlei em pé, mas não teve sucesso. Foi aí que o treinador Ronaldo Oliveira a convidou para entrar para a equipe do Sesi. Mas não foi fácil essa migração das modalidades, “A primeira barreira foi o preconceito mesmo, o meu preconceito comigo mesma. Eu achava que, como eu já joguei profissional então, eu tinha vergonha né. Mas depois meu marido e a minha família me deram a maior força e eu estou aqui hoje, tranquila”, conta Janaína. Atualmente Janaína faz parte das equipes do Sesi e da Seleção Brasileira Paraolímpica, e ganha bolsa atleta do Sesi e do governo, mas julga não ser o suficiente para sobreviver “Eu não me sinto totalmente profissional porque eu preciso trabalhar, eu não posso viver só do esporte.” Janaína na foi a única que migrou do vôlei olímpico para o paraolímpico.
Nathalie e Daniel - Namoro que surgiu das quadras
Nathalie Filomena, 22, nasceu com a Lesão do Plexo Braquial, complicação ocorrida no momento do parto, mas desde criança praticava natação e aos 8 anos começou a jogar o vôlei olímpico. Em 2006 Ronaldo Oliveira também a convidou para o Sesi, alegando que as expectativas de crescimento profissional seriam melhores no vôlei sentado. Nathalie não conhecia a modalidade e demorou um ano para se adaptar às novas regras “O Ronaldo ligou lá em casa e falou com os meus pais. Quando ele falou vôlei sentado eu pensei que fosse sentado na cadeira de rodas”. Nathalie acredita que por ter deficiência nos braços, o vôlei sentado se torna um pouco mais difícil que o olímpico, mas garante não voltar para a outra modalidade e que está satisfeita, pois, consegue tirar o seu sustento do esporte. Janaína e Nathalie foram para as olimpíadas de Londres deste ano. O grupo ficou em 5º lugar, pois pegaram a chave mais difícil da competição. Mas as atletas garantem que foi um ótimo resultado pelo fato de ser a primeira vez que o Brasil foi representado pela equipe feminina paraolímpica. Conseguir um centro de treinamento, adaptar-se as regras do jogo, associar trabalho com a vida de atleta ou conseguir tirar o sustento do esporte são realidades dos esportistas olímpicos e paraolímpicos. O ritmo de treinamento e a intensidade da dedicação são iguais em ambas modalidades. O que garante o sucesso de um profissional, independentemente da área em que pretende atuar, é a força que surge de dentro de cada um. Um sonho pode ser algo mais próximo se visto como um objetivo, traçado como uma meta e alcançado com garra e determinação.

Um comentário:

  1. Boa tarde. Me chamo Ananias. Ha 6 anos tive um acidente de moto que causou a lesão de plexo braquial no braço direito e gostaria de fazer a pratica de esportes. Antes do meu acidente eu era surfista, treinava jiu jitsu, nataçao e futebol. N conheço ninguem que possa esta me ajudando em alguma pratica esportiva. Moro em salvador bahia. Voces podem me indica alguém. Me ajudem amo o esporte e quero muito voltar a ativa. Meu contato senaananias@gmail.com Deus abençoe quem puder me ajudar.

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