segunda-feira, 5 de março de 2012

Longe de casa há mais de uma semana...

Priscila Silva e Raquel Barbosa


Conquistar a independência é o sonho de todo jovem moderno, mas ter essa liberdade exigirá responsabilidade dessa galera que corre atrás dos seus objetivos sem ter medo de encarar as adversidades que a vida adulta traz.  Segundo dados do IBGE, pessoas na faixa dos 20 aos 29 anos mudam mais de cidade ou estado do que em qualquer outra idade. Cerca de 4,1 milhões de jovens nessa faixa etária migram, por ano, principalmente por causa de trabalho ou estudo. Para a Psicoterapeuta especializada pela PUC-SP em Terapia Cognitivo-Comportamental Gabriela Monéa, “os jovens que saem de casa devem ter consciência que apesar de ter ou não ajuda dos pais, tanto emocional como a financeira, ele será responsável pela sua vida a partir daquele momento, e essa é a hora de tomar suas próprias decisões”.

Mas nem sempre é um mar de rosas, dificuldades financeiras, ter que se virar com as tarefas de casa, conciliar trabalho e estudo são alguns exemplos das barreias enfrentadas por quem deseja um futuro promissor. A estudante de Educação Física, Érika Bernardo, 24 anos, já passou por isso duas vezes. Em 2009 a estudante saiu de sua cidade natal, Ipatinga no interior de Minas e foi para São Paulo por ter conquistado uma bolsa de estudos, mas sofreu com a saudade da família, abandonou a bolsa e voltou para casa. Um ano depois Érika conseguiu outra bolsa de estudos, em uma cidade mais próxima da sua família, em Vila Velha-ES. Apesar da saudade e a dificuldade em ter que trabalhar para se sustentar, Érika não pensa mais em abrir mão dos seus planos “eu já passei por isso uma vez e desisti, mas hoje eu estou tranquila e não penso em desistir novamente”. 

            Há diferentes maneiras de encarar essa nova fase da vida. Para alguns jovens a saudade é fatal para outros nem tanto. Marilha Sobrinho, 20 anos, saiu do aconchego do lar e foi enfrentar o frio e uma nova língua no Canadá. Sem saber nem mesmo o verbo “to be” aos 15 anos foi cursar o High School no país em que nasceu “sai de casa porque sempre ouvi que o Canadá era um país melhor para estudar e viver, e como nasci aqui decidi vir para estudar inglês.” A estudante diz ter sofrido muito no início, “tive duas grandes dificuldades; a saudade, chorava todos os dias e a língua, que não sabia nada.” Marilha trabalhava durante os finais de semana, isso contribuiu para que ela se familiarizasse com a nova cultura e a nova língua e foi um remédio para superar a saudade. Atualmente ela continua vivendo no Canadá. Um exemplo distinto de Marilha é Otávio Honório, 19 anos, estudante de Engenharia Civil da Universidade Federal de Guaratinguetá-UNESP, que não saiu nem mesmo de seu estado. Sempre que bate a saudade Honório tem a oportunidade de estar em casa com a família “em geral visito umas duas vezes por mês, quando tem feriado prolongado e durante as férias.” Para a psicoterapeuta a saudade dos familiares e dos amigos não é um grande empecilho, pois a vontade de cursar a faculdade e conquistar uma carreira de sucesso deve ser o foco dos estudantes.
Um lado divertido de curtir essa etapa da vida é interagir com os novos colegas de faculdade e os amigos que moram em repúblicas estudantis.  As estudantes Karla Liziê, 24 anos, e Lahís Braga, 22 anos passaram por essa experiência. Karla saiu de Salinas-MG para estudar Educação Física em Ipatinga, cidade de Lahís, que foi para Viçosa cursar Matemática na Universidade Federal de Viçosa-UFV. A rotina dessas meninas que foram morar em  repúblicas é composta por grupos de estudos, conversas descontraídas sobre o futuro e muita balada.

Apesar dessa fase ser um período turbulento é importante para o crescimento profissional. A Drª Gabriela dá algumas dicas para os estudantes “tenha sempre em mente os objetivos, aproveite a liberdade com responsabilidade e utilize esse momento para crescimento próprio, faça novos amigos, mas procure pessoas que tenham objetivos parecidos com os seus”. Mesmo com todas as adversidades isso é passageiro e o tempo da faculdade passa muito rápido. Por isso é preciso aproveitar e se divertir, mas não esquecer que o objetivo era sair de casa para iniciar um futuro de sucesso.

Milhas e milhas distante do meu amor....

“Seguir a vida de forma independente, com certeza, mas longe ou perto dos pais eu não sei ainda, só o tempo vai dizer” 
Érika Bernardo,24 anos
Educação Física
406 km longe de casa
2 vezes por semestre visita a família

“Agora quando eu vou pra casa dos meus pais eu sinto falta da liberdade que eu tenho de morar sozinho” 
Otávio Honório, 19 anos
Engenharia Civil
190 km longe de casa
Todos os meses visita a família

“Diante do todo o sofrimento da solidão e da dificuldade de chegar a um lugar e não conhecer ninguém, eu já pensei em desistir várias vezes e voltar para casa” 
Karla Liziê, 24 anos
Educação Física
566 km longe de casa
2 vezes por ano visita a família


“Ao terminar a graduação pretendo continuar em viçosa e fazer mestrado”
Lahís Braga, 22 anos
Matemática
237 km longe de casa
2 vezes por semestre visita a família

“Não penso mais em ficar aqui pra sempre, eu estou construindo minha família e se tiver a oportunidade volto para o Brasil” – Marilha Sobrinho, 20 anos
High School
Mais de 12.000 km longe de casa
Visita a família a cada 2 anos